A importância da trilha sonora como recurso dramático é inquestionável. Filmes, séries e programas de televisão ganham força quando acrescidos de música, capaz de provocar respostas emocionais em qualquer tipo de público, seja qual for sua origem ou cultura.
Mas isso não significa que esse tipo de composição esteja irremediavelmente atrelado às imagens que a inspiraram. Pelo contrário. Os grandes representantes dessa arte estão presentes nas salas de concerto e nos discos. Suas melodias dependendo apenas de si para seduzir quem as escuta.
Este CD é prova disso. Seu conteúdo esteve originalmente a serviço de imagens, mas conhecê-las não é pré-requisito. Aliás, o título do disco e das faixas não trazem referências externas bem definidas, reforçando a noção de que se trata de um trabalho independente e autoral. O que se tem são músicas, simplesmente músicas. De notável beleza.

E beleza, quando o assunto são as partituras de Alexandre Guerra, é um termo inevitável. Compositor formado pelo departamento de música de cinema da Berklee College of Music, ele consolida-se como um dos principais nomes da música instrumental brasileira, com forte atuação no universo audiovisual (filmes, documentários, séries e novelas). Recentemente, sua trilha para o longa-metragem "O Tempo e o Vento", de Jayme Monjardim, conquistou elogios entusiasmados de especialistas internacionais.

Em "Ballet de Azul e Vento", Alexandre reuniu temas criados para duas séries internacionais sobre natureza: "Secret Brazil - Pantanal", da National Geographic, e "Sauvés de l'extinction", uma co-produção Brasil-França, além de músicas originais compostas para a novela "Em Família", da Rede Globo. São 14 faixas que evidenciam seu talento para escrever melodias e orquestrações de grande sensibilidade, revelando sua afinidade com mestres europeus da música de cinema e com Tom Jobim, um de seus maiores ídolos.

A música puramente instrumental, sem letra, abre possibilidades ilimitadas. Guiado pelas notas do compositor, o ouvinte escreve sua própria história. Uma história que não precisa de imagens, apenas de emoções. Em “Ballet de Azul e Vento”, o que os olhos não veem, o coração também pode sentir.

Fábio Scrivano, jornalista